quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Uma Vida Perdida

Por Angelica Brunatto

A droga está cada vez mais presente na nossa sociedade. Ela destroi laços familiares e a vida da pessoa. Deixa uma família desestruturada. Por causa dela é grande o número de pais que não dá valor aos filhos, que os agridem e às vezes até os abandonam.

De acordo com o presidente do Conselho Tutelar de Tubarão, Fernando Fernandes Antunes, “a droga pode trazer conseqüências graves para a família. Além de destruir os laços, quando usada na gravidez traz riscos à saúde do bebê”. Ele ainda complementa que pais drogados negligenciam as crianças.

As drogas levaram os pais de uma criança a abandoná-la em uma loja em Tubarão. O casal estava na cidade há poucos dias e o bebê era recém nascido. Junto aos pertences da criança, foram encontradas drogas. Os pais foram presos e a criança encaminhada a uma família provisória.

Boa vontade e determinação são os ingredientes necessários para a recuperação de uma pessoa dependente das drogas. Um exemplo, para mostrar essa realidade, é o do Desafio Jovem, localizado na cidade de Tubarão. O local começou a funcionar em 1991, quando o fundador, Sandro Guerreiros, voltou de um lugar semelhante na cidade de Criciúma. Na época, com 17 anos, ele decidiu procurar ajuda. Como conta o coordenador do Desafio Jovem, Fábio Machado de Medeiros, Sandro procurou ajuda sozinho. “Ele foi à Criciúma a pé para procurar tratamento”, revela. Hoje o homem tem 38 anos de idade.

O tratamento desenvolvido funcionou, Sandro decidiu abrir uma casa para abrigar pessoas com dependência química em Tubarão. No local, uma série de atividades envolve esses internos, que devem permanecer na casa por pelo menos nove meses. Entretanto, para que o tratamento funcione, é preciso que o dependente queira melhorar. “A pessoa precisa querer ajuda para que o trabalho possa ser feito”. Enquanto estão no Desafio Jovem, os internos devem cuidar do local onde vivem. Uma das tarefas propostas pelos membros do Desafio é fazer os moradores trabalharem para poder viver.

Durante o tempo em que permanecem na casa, os internos participam de reuniões, que cuidam da parte da espiritualidade, conscientização, e também oferece conselhos aos dependentes. Essas reuniões acontecem três vezes ao dia. Os aconselhamentos são feitos por psicólogos, que fazem também um acompanhamento individual.

INTERNOS

Nos primeiros anos de existência, o Desafio Jovem trabalhava com 80 internos. Hoje vivem 28. Entretanto a capacidade da casa é de 20 dependentes. Eles têm o direito de desistir do tratamento em qualquer etapa. “Basta eles se sentirem prontos para isso”, revela Fábio.

O Desafio atente pessoas das mais diferentes idades. Atualmente a faixa etária está entre 17 e 50 anos. Grande parte delas são reincidentes. Pararam o tratamento, e voltaram a conviver com as drogas. Segundo o coordenador do local, “a droga acaba com a vida da pessoa”, que geralmente tem algum problema.

Ninguém que está sob tratamento tem autorização para sair da casa, a não ser que tenha que resolver algum problema urgente. Mesmo assim, deve ir acompanhado de algum funcionário do local.

As visitas também são restritas. O interno só recebe visita dos familiares a cada 15 dias, nos domingos. É apenas esse o contato que eles têm com a família.

UMA HISTÓRIA QUASE FELIZ

F.J é interno reincidente do Desafio Jovem. A primeira vez não chegou a completar o tratamento. Saiu da casa no sexto mês. Procurou ajuda aos 18 anos, sete anos depois de ter começado a fumar.

O cigarro abriu portas para que começasse a usar outras drogas, como a maconha, cocaína, tanto injetável quanto cheirada. F.J diz que já chegou a usar drogas mais fortes, como o crack e alguns medicamentos.

Na família de F.J já haviam outras pessoas que faziam uso dessas substâncias. Influenciado por primos, F.J começou a fumar. Tinha vontade e curiosidade para experimentar. “A gente só usa porque a gente quer, mas sempre acaba influenciado”, alerta.

Antes de entrar no Desafio, F.J já foi preso por assalto por causa da droga. Entretanto foi liberado pela juíza, que entendeu que ele queria mudar. Por iniciativa própria foi parar no Desafio Jovem. Na época, o rapaz tinha 18 anos e nos seis meses que permaneceu internado conseguiu uma recuperação.

“Depois que cheguei aqui minha vida mudou, eu não tinha mais vida”. Ao sair do Desafio Jovem ele começou a trabalhar e ter uma vida nova. Entretanto, após algum tempo voltou a usar drogas outra vez. Ele também era noivo há um ano, mas o vício acabou com o relacionamento.

A noiva desistiu do casamento por medo de ele não parar mais. E então F.J voltou para o Desafio para tentar acabar com a dependência. Agora ele garante que vai cumprir os nove meses de tratamento.

Hoje F.J tem 23 anos, perdeu uma adolescência por causa da droga. Agora, reconsquista tudo o que perdeu, inclusive a noiva. Recebe visitas na casa somente da mãe e da irmã, e garante que o relacionamento com a família mudou. Um dos sonhos de F.J é poder construir a própria família.

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