quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Gravidez precoce e seus desafios

Por Fabrine Jeremias

A gravidez precoce está cada vez mais comum na adolescência. Muitos fatores contribuem para isso, tendo como principal o problema socioeconômico e cultural do país, que faz com que os adolescentes iniciem a vida sexual cada vez mais cedo.

Assim aconteceu com Araceli Santa Helena Jeremias Rodrigues, que engravidou aos 15 anos. “Foi um pouco complicado, senti muitos enjôos, o corpo vai mudando. Acredito que as escolas e os sistemas de educação estão muito mais preocupados em dar conta das matérias.” Diante disso temas importantíssimos como sexualidade, gravidez, drogas deixam de ser debatidos. “Hoje nem tanto mas há 15 anos quando eu fiquei grávida com certeza sim.”

Aí chegamos a outro ponto, a menina também não está psicologicamente pronta para construir uma família com seu namorado. A maioria das adolescentes que engravidam são mães solteiras, normalmente os jovens não assumem um compromisso, o que é a causa de muitos abortos.

A forma mais fácil de tentar diminuir o número de gravidez indesejada é o diálogo entre pais, filhos e colégio, que são a parte mais próxima para passar as informações necessárias, evitar esses acontecimentos e também as doenças sexualmente transmissíveis.

A questão é que ainda há muito tabu em relação ao assunto sexo. Os pais ainda se sentem constrangidos para falarem com seus filhos. Essa falta de esclarecimento é o que gera jovens mal instruídos para terem relações sexuais sem uma boa instrução. Teresinha Silveira, que é mãe de uma adolescente de 15 anos, acredita que a conversa é a melhor prevenção, mas que mesmo assim, ninguém está isento de um fato desses.

As vidas dessas meninas acabam se tornando um transtorno e precisam mais do que nunca o apoio da família. Araceli diz que quando descobriu que estava grávida foi muito difícil contar aos seus pais e para o próprio namorado. Diz que apesar de Jorge (pai de seu filho) ter ficado muito assustado, ele aceitou e apoiou todo o tempo.

Já para os pais dela foi mais complicado contar. Ficou sem coragem. Mas depois, junto com o namorado, revelou tudo e a família acolheu o novo fato. Assim a gravidez foi levada normalmente sem grandes transtornos.

Jovens que engravidam normalmente são de famílias que passaram pela mesma situação, gravidez precoce, abandono e mães solteiras, ou seja, elas já se encontram em um ambiente desestruturado e acabam gerando mais desestrutura familiar.

Além da camisinha, o uso de anticoncepcionais é muito raro. A negação do uso é tanto maior quanto menor a faixa etária. E o curioso entre as pesquisas relacionadas a esses assuntos, é que mesmo a facilidade a informações de campanhas, internet, televisão, dentre outros, não tem garantido uma maior prevenção.

É muito importante que este assunto seja levado a sério, não só durante a gravidez, como também para um bom parto e a futura educação e criação dessa nova criança que virá ao mundo.

Preconceito

Um grande obstáculo que os jovens encontram é o preconceito da sociedade, que ainda julga muito estes adolescentes e ajudam a piorar o desenvolvimento da gravidez. Os amigos que se afastam, os próprios pais desses amigos, a falta de preparo das escolas para lidar com esses jovens e a saída do ambiente escolar que, para muitos, não é temporária.

Araceli lembra como foi com ela: “senti preconceito sim, alguns amigos chegaram a se afastar. As mães das amigas também faziam comentários desagradáveis. Inclusive eu mesma com medo do preconceito me afastei de muitas coisas, de ir a lugares, a escola inclusive desisti de freqüentar.”

Não é nada fácil lidar com todas essas novas mudanças e sentimentos que os jovens sofrem quando acontece a gravidez indesejada. Pesquisas mostram também que as taxas de suicídio nas adolescentes grávidas são mais elevadas em relação às não grávidas, principalmente nas jovens solteiras, um dado preocupante.

Pesquisas

No caso do Brasil, uma pesquisa que desde 2001 vem avaliando dados sobre a gravidez na adolescência em três capitais brasileiras, Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre, traz novos indicativos sobre aspectos dessa questão; Nos últimos vinte anos, houve no Brasil um aumento de fecundidade entre jovens de 15 a 19 anos, segundo os dados da ABRASCO (Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva).

Final feliz

Mas como nem todas as histórias são tristes e traumáticas, Araceli fala que ela é uma exceção. “Como mãe com certeza me surpreendi, me sai muito bem, pelo menos eu acho. Muitas vezes como toda adolescente sendo muito teimosa, eu não queria a opinião de ninguém, mas de um modo geral correu tudo muito bem.” E quando seu filho tinha dois meses já voltou a freqüentar a escola.

A experiência do casamento veio junto com a gravidez. “Eu casei ainda grávida de cinco meses, e até hoje, com quatorze anos de casamento, estou muito feliz com meu marido e meu filho. Com certeza, no meu caso, foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.”

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